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terça-feira, 19 de março de 2013

Games x Cultura - Uma velha-nova discussão


Rebuliço, rebuliço! Notícias bombasticamente chocantes viajando pelas mídias gamers de toda a
interwebs me fizeram mais uma vez (de novo e de novo) refletir se eu é que sou meio doida ou há algo de muito errado nesse país. Claro, CLARO, Brasil sem polêmica não é Brasil. Não posso nem voltar direito das minhas férias e já recebo uma notícia dessas na minha cara...


Para que ainda não está sabendo, a nossa Ministra da Cultura, Relaxa e Goza Marta Suplicy afirmou durante um discurso acerca do “Vale-Cultura” (benefício de R$50 concedido ao cidadão para ser utilizado nas mais diversas atividades culturais) que videogames não estariam inclusos nesse pacote. Ora, mas por que é que os games não estão inclusos neste pacote, você se pergunta? Porque, para a Ministra, games não são cultura.


Antes que eu tenha um piripaque e morra, vamos rever alguns fatos aqui: Primeiro, o que é Cultura?
Aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade; Cultura é também associada, comumente, a altas formas de manifestação artística e/ou técnica da humanidade”.

Além disso, vejamos outros casos importantes. Por que é que algo possui valor cultural (mais especificamente, cultura material, intelectual)? A Literatura faz parte da denominação de cultura. Filmes também. O “Vale-Cultura” abrange esses dois, mais acesso à música, teatro, revistas e muitos outros exemplos. E, se eu te disser que os jogos eletrônicos são como a fusão de um bom livro (arte literária) mais um bom filme (arte cinematográfica) e uma boa música (arte musical), só que ainda mais interativos? Quem aqui já jogou Heavy Rain e sabe exatamente do que eu estou falando. Ou como algumas horas de Assassin’s Creed II te ensinaram muito mais sobre o Renascimento Italiano do que aquele seu professor de história do ensino médio? Esses são só os primeiros exemplos que vieram na minha cabeça.




Convenhamos, nem todos os jogos poderiam entrar para essa categoria de “arte”. Da mesma forma que existem “livros bons” e “livros ruins”, “filmes bons” e “filmes ruins”, isso também poderia ser aplicado ao caso dos videogames. Games são repletos de carga intelectual e cultural, sejam daqui ou de fora, além de serem produtos da cultura humana. Se ela afirma que os jogos não são cultura, o que é então cultura para ela? Se algo que possui enredo, imagem, música e interação não é arte ou sequer cultura, teremos que rever vários conceitos e itens que receberam aprovação do Governo para figurarem no “Vale-Cultura”.


Ah, e antes que eu me esqueça, se lembram da Lei Rouanet [Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991]? Sim, essa mesma que viabiliza o recebimento que um valor em dinheiro para que possamos desfrutar e ter acesso à cultura no país? Pois bem, e quem se lembra do jogo “Toren”, do Estúdio Swordtales (brasileiro de Porto Alegre)? Esse mesmo jogo foi aprovado para receber os recursos previstos pela Lei Rouanet como auxílio para o desenvolvimento do projeto. Isso foi visto como um grande passo não só para a indústria de games brasileira, mas também para a própria indústria de games mundial, já que os videogames são os maiores movimentadores de capital, mais do que o cinema. Será que devo citar a Portaria Nº 116, de 29 de Novembro de 2011 (do próprio Ministério da Cultura)








Mas é claro que a ação da Ministra da Cultura não ficou só por isso, e gerou revolta nas redes sociais. Empresas e Faculdades de pesquisa e desenvolvimento de jogos eletrônicos já enviaram suas cartas em resposta à decisão de Suplicy (como a ACIGAMES e o Curso de Tecnologia em Jogos Digitais da Faculdade deTecnologia de São Caetano do Sul). E, para ver como o episódio acabou repercutindo até mesmo fora do país, a Square Enix (Final Fantasy, gente!) soube de todo o rebuliço do assunto no Brasil e gentilmente enviou à nossa Ministra através de sua filial latino americana uma cópia do CD “Distant Worlds: Music from Final Fantasy” (álbum de músicas orquestradas de músicas da famosa série) e o artbook “Japan”, de autoria de Yoshitaka Amano (ilustrador da mesma série, além de muitos outros trabalhos importantes).



E, se isso não for suficiente para mudar a visão da Ministra, que tal falarmos sobre o MoMA (Museu de Arte Moderna de New York)? Não sei se ela sabe, mas a mais nova exposição permanente do local é sobre nada mais, nada menos do que os games, que são, de acordo com o anúncio oficial, "exemplos excepcionais de design interativo" e "expressões mais importantes da criatividade em design contemporâneo; nossos critérios enfatizam não somente a qualidade visual e estética da experiência de cada jogo, mas também vários outros aspectos, como a elegância do código até o planejamento do comportamento do jogador - que pertence ao design de interação”.


E então, Ministra Suplicy? Que tal criarmos um novo bordão para você?



“Relaxa e Joga!”



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